Eu sabia que estava ficando louca. Fantasiava uma presença ao meu lado, sentia fortemente e até mesmo prendia o ar e soluço de um choro. Tudo para conseguir escutar qualquer outra respiração que não fosse a minha. E por uma loucura maior que a vivente em mim, eu escutei. Escutei aquele som frágil que se camuflava ao meu no êxtase de momentos nostálgicos. Voltara para me ver sofrer de perto? Para dizer que me perdoava ou que simplesmente eu merecia tudo o que sentia agora? Voltara. E eu não tive tempo de perguntar para que, nem sequer forças tive. Apenas mantive os olhos fechados, os dedos sobre eles, a respiração cessada e os ouvidos atentos. Queria ouvir som do ar que ia embora ou a minha loucura, tanto faz.
– Você é tudo que vivo, amor. É a minha saudade, a minha vontade, a minha esperança de sorrir de novo. Você é o universo inteiro, com todas as estrelas e dimensões. Você é todas as estações, os dias e as horas da minha vida. Você! Com todos os seus defeitos, suas ironias, chatices e desconfianças. Você em toda a sua essência. Você é tudo que sinto, que penso, que quero ter em todo o meu tempo de existência. Você, vida. Você. - Seus olhos também sentiam como os meus. Era como se o mar houvesse mudado de lugar, avançado e tomado conta das faces agora tão próximas. Sua mão segurava meu punho, do mesmo modo que fez antes de partir falsamente. Dessa vez, não o soltou nem mesmo após um minuto inteiro após tê-lo afastado de meu rosto. Hoje, ainda acredito que se prende em alguma parte de mim. Quem sabe, todas. – Em todo o seu tempo de existência? Não desejaria que fosse além dele? - E eu me sentia "eu" de novo. Com coragem até de esboçar sorriso presunçoso em uma linha unilateral de lábios; De olhar diretamente em seus olhos com todos os defeitos que os meus transpareciam.
– Não, senhorita prepotência. Você já me dá muito trabalho nessa vida.
– Ah, claro! Eu sou a prepotente e você é meu pôr-do-sol, é isso mesmo?
– Sim, sou uma grande bola redonda e laranja. Quente também, quase ia esquecendo. Só tendo-lhe de novo eu conseguia rir como agora. Rir em quase gritos, levar a mão livre ao rosto de quem me revivia sem hesitar ou pausar o riso por apreensão tola. Trazia seu rosto, não suportando uma saudade dos nossos antigos gestos, da proximidade.
– É uma grande bola redonda, laranja e quente que vai embora por trás da linha infinita do mar. Faz escurecer sem a presença. Às vezes, até frio. Mas...
E quanta falta daquela mania incrível de interromper. Quanta! Falta preenchida, enfim.
– Mas que volta. Por não suportar muito tempo sem te ver, tocar, iluminar... - De testa na minha era como se os olhos emitissem seu brilho próprio dentro de mim, através dos meus. Eles sorriam, eu jamais me esqueceria do seu sorriso de olhos... Dos sinais, caminhos.– Eu não quero que volte outra vez. - Até aquela coisa engraçada de mexer olhinhos rápidos me encantava. Levava-os de um lado para o outro, não entendo o meu desejo. Buscava respostas sem que fossem necessárias as perguntas faladas. Mas sofria de ataques de curiosidade constantes, e o meu silêncio rápido causou-lhe incômodo, fácil perceber. Selei seus lábios no ato de lhe parar antes que pronunciasse algo, como a boca anunciava. Outra falta preenchida: Roubar-lhe beijos inesperados com ou sem propósito. - Porque só não quero que vá. Nem por outra vez sequer. Só não vá.
– Eu estou aqui. Eu estou de verdade. Vê? Nunca vou deixar de estar, meu amor. Eu prometo. - E retribuiu-me o selar de lábios. O seu um tanto mais calmo e demorado. Depois não se importou em desfazer a proximidade. Tão melhor assim.
Esquecia-me do som do mar, do vento soprando no ouvido. Tudo que queria era o nosso som. De volta, recomeço... Amor desejado. Sem tanto se preocupar depois de todo cansaço - coisa de longa data - que eu lhe dera, fechava os olhos. Inspirava fundo também. Como naquela vez instantes passados. Nossa! Mais pareciam anos. E que fosse mesmo assim. Porém, tinha algo diferente. Não inspirava ar para ganhar forças, cautela. E sim, inspirava a mim. Para ganhar o que? A mim que já era plenamente sua? Eu ainda não entendo coisa alguma nossa, e amo tudo o que é incompreensível desse jeito. Eu fitei-lhe as pálpebras fechadas. Por mais uma admiração, decidi que o seu rosto por inteiro também era irresistível de se notar. Sua bochecha de pele clara tinha uma coloração diferente no momento. Eu não sabia identificar qual. Contudo, acreditei que o sol já tinha se ido e a noite por preguiçosa que fosse, ainda não havia chegado. Depois não vi mais nada a não ser a sua luz guardada por trás dos meus olhos fechados. E um sussurro meu encerrava aquela conversa verbal de sentimentos: – É, eu sei. Confio em suas promessas.
Não sei quanto tempo se passou, perdi a noção ou fui transportada para uma esfera diferente. Quando abri os olhos por outra vez, o brilho fluorescente da luz do teto me irritou os olhos. O som da TV me irritou os ouvidos. A passagem do meu irmão no corredor me irritou a alma. Era um bufar irritado, um grunhido irritado, um apertar de mãos no rosto irritado. Uma existência inteira irritada, e ninguém ao menos se importaria. E por ser um pouco essência, eu até sorrio escondida por não conseguir lhe deixar ir. Por não conseguir.
"Eu estou aqui. Eu estou de verdade. Vê? Nunca vou deixar de estar, meu amor. Eu prometo."
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